As alterações hormonais são grandes causadoras da depressão em mulheres. Aprenda então a prevenir o problema em todas as fases da vida.
Dos 17 milhões de brasileiros que sofrem com depressão, quase dois terços são mulheres
As previsões não são nada animadoras: a Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que em 20 anos a depressão ocupará o segundo lugar no ranking dos males que mais matam. A doença entra em cena quando o sofrimento vem do nada ou é completamente desproporcional ao motivo que o disparou, arrastando-se por meses ou até anos. Mas o que faz algumas mulheres caírem no fundo do poço?
Os psicólogos americanos Steven Rogers e Karen Miller, autores do livro O Fator Estrogênio – a depressão feminina e a sua ligação oculta com as mudanças hormonais (Ed. Cultrix), recém-lançado no Brasil, apontam a menarca (primeira menstruação), o período pré-menstrual, a gestação e a menopausa como as fases mais vulneráveis para a mulher desenvolver depressão.
“A queda de estrogênio (hormônio sexual feminino produzido principalmente pelos ovários) nos ciclos reprodutivos e no pós-parto – ou a falta dele na menopausa – provoca irritabilidade, tristeza, sensibilidade e mau humor, piorando a depressão em quem já tem”, esclarece Carolina Ambrogini, ginecologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Tudo porque esse hormônio está relacionado ao controle dos níveis de serotonina, um neurotransmissor que dá sensação de prazer e felicidade. Não à toa, o objetivo da maior parte dos tratamentos para depressão é aumentar a disponibilidade de serotonina. Para os especialistas Steven Rogers e Karen Miller, o descompasso hormonal pode provocar uma grave depressão mesmo em quem nunca teve.
Fatores de risco
Apesar de a mulher estar no grupo com predisposição para a doença (duas para cada homem, segundo a OMS), não quer dizer que toda a ala feminina irá desenvolvê-la em algum momento da vida. O psiquiatra Marcos Gebara, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), explica que a depressão não tem uma causa específica, ela se desenvolve por uma conjunção de fatores. O que compõe esse cenário?
Primeiro vem o desequilíbrio hormonal, que deixa as mulheres mais sensíveis, irritadas, com baixa autoestima e até apatia para lidar com certas situações, potencializando a predisposição para a depressão. Depois há o componente genético, tanto que se estima que 40% a 60% dos quadros sejam desencadeados por histórico familiar. Por último, apresenta-se o chamado fator ambiental, que são os acontecimentos dramáticos ocorridos ao longo da vida – a perda do emprego ou uma separação, por exemplo.
Mulher de fases
Saiba como se proteger das alterações hormonais em todos os períodos da vida:
Tensão Pré-Menstrual Todo mês, na TPM, há uma queda de estrogênio que provoca alterações do humor. Se a mulher não engravida, a camada de células formada no organismo para receber o embrião sai em forma de menstruação e os níveis de estrogênio caem ainda mais. Para amenizar os efeitos desse desequilíbrio, Ricardo Monezi, psicobiólogo do Instituto de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), indica o consumo regular de flavonoides, presentes na uva escura, no alho, na soja, no brócolis e na couve-flor.
Pós-parto Com a perda da placenta, os níveis de estrogênio despencam. Segundo os psicólogos Steven Rogers e Karen Miller, os índices ficam tão baixos quanto na fase da menopausa em mais da metade das mulheres. A psiquiatra Alexandrina Meleiros acrescenta: “Entre 25% e 35% das grávidas apresentam sintomas depressivos após o parto”. A tristeza nessa fase, porém, não pode ultrapassar um mês. “O ideal é que especialmente as mulheres que já tenham tido algum episódio de depressão ou têm histórico na família acompanhem os sintomas com um médico”, sugere a ginecologista Carolina Ambrogini.
Menopausa Na perimenopausa, quando os hormônios ovarianos começam a oscilar, surgem as primeiras ausências de menstruação. A menopausa só é caracterizada após 12 meses sem menstruar e os sintomas mais fortes desse momento são fadiga, ondas de calor, irritabilidade, perda de libido e aumento de peso. O risco de desenvolver depressão é grande nesse início, quando há o contraste dos níveis de estrogênio e uma insatisfação profunda por sentir tantas mudanças. Segundo Carolina Ambrogini, a reposição hormonal, feita com remédios, é uma solução eficiente contra os altos e baixos desse período e deve ser aplicada com a chegada da menopausa.